14 jun Teoria de Jogos e Educação Empreendedora
Tempo estimado de leitura: 7 minutosDa série Realidade Empreendedora
Gerenciar negócios hoje em dia esta cada vez mais difícil e as organizações sempre procuraram superexecutivos, capazes de garantir a sobrevivência das empresas ao longo do tempo e criar a tão sonhada vantagem competitiva.
Como explicar o sucesso de jovens empresas, surgindo do nada e ocupando espaços no mercado e derrubando grandes concorrentes?
E as micro e pequenas empresas- como lutam para sobreviver?
É preciso mostrar este lado aos alunos que procuram a profissão de administrador. Educar para o empreendedorismo se faz necessário para garantir mais do que uma única opção ao aluno: vou ser um executivo ou vou montar o meu próprio negócio?
Como promover o comportamento empreendedor nas organizações?
Acreditamos que pelo menos parte da resposta esta no desenvolvimento humano, no autoconhecimento e acredito ser possível despertar a capacidade empreendedora das pessoas através de um programa de aprendizagem.
Um programa onde o fazer, vivenciar circunstâncias profissionais desafiadoras e avaliar a capacidade do gestor, possa ser trabalhado de forma integral, multi e interdisciplinar. Em outras palavras, um programa onde os administradores possam fortalecer e aprimorar, as atitudes e a maneira com que elas lidam com a pressão e as suas percepções para enfrentar seus medos e resolver os problemas.
É preciso liderança para aprender por descoberta, atitude para agir em busca de um objetivo, comprometimento com o resultado e carisma para atrair pessoas para trabalhar muito para atingir o resultado esperado. Nos pequenos negócios é preciso aprender pôr descoberta e é preciso liderança para cuidar da evolução, adaptação e da manutenção do processo de aprendizagem, dele próprio, das pessoas e da organização, já nas grandes organizações esta aprendizagem precisa ser realizada em um ambiente adequado e flexível e a estrutura da organização deve permitir e facilitar a mudança.
Aprender é modificar a forma como você se comporta no mundo para tornar-se mais eficiente e feliz na arte de viver no mundo de negócios.
Acreditamos que a época atual é bastante propícia para a implementação deste modelo de aprendizagem e capacitação empreendedora. O contexto é bastante delicado. O desemprego é enorme, o nível de capacitação dos profissionais em administração deixa muito a desejar e a quantidade de postos de trabalho nas grandes organizações tende a diminuir, além do grave problema de subutilização e qualificação da mão de obra.
É preciso dar total condição ao aluno para tomar a decisão e tentar revelar potenciais talentos. Como isto é possível?
Na disciplina de Jogos de Empresa o comportamento empreendedor foi estimulado em um grupo de mais de quatrocentos alunos, ao longo de 4 semestres e quatro turmas diferentes.
Dois pontos distinguem a abordagem da aula de jogos que relataremos: seu compromisso com a ação empreendedora e não executiva (gerencial) e o mais importante a nosso ver, o caráter empreendedor da experiência. É importante salientar que a disciplina e o jogo foi construído sem nenhuma auxilio de softwares específicos.
Muitas vezes os cursos esbarram na tentativa de implementar essa disciplina pelo fato de não existir um software, que na maioria dos caso são propriedades de empresas do ramo e caros para a estrutura das faculdades, ou os de mais fácil acesso são racionais ao excesso não considerando todas ações subjetivas da tomada de decisão estratégica numa empresas.
Os alunos devem montar uma indústria e se dividem em: Presidente, Vice Presidente de Recursos Humanos, Finanças, Produção, Marketing e Comercial, recebem cinco milhões de “dinheiros” e começam a construir a empresa, alocam sua fábrica em mercados pré-definidos, preparam suas estratégias funcionais e comercializam o mesmo produto que pode ser vendido em dois mercados: mercado da classe A, que quer inovações e paga mais caro, e o mercado da classe C, que quer volume e preço baixo.
O papel do professor foi orientar os alunos nas suas estratégias, receber as propostas comercias e decidir a compra dos produtos. O tempo para a tomada de decisão é curto e a pressão psicológica é alta.
Durante o jogo percebe-se o comprometimento dos alunos e alguns grupos surpreenderam com relação a gestão deste negócio virtual.
A simulação tem cinco objetivos
1. Abordar de todas as áreas funcionais de negócios
2. Enfatizar a inter-relação entre as disciplinas.
3. Aplicar o planejamento estratégico e habilidades para execução.
4. Estimular espírito de competição e a necessidade de se sobressair no mercado.
5. Consolidar a auto-confiança por meio de novos conhecimentos e experiências – aprender fazendo.
O jogo consiste em cinco etapas a cada rodada – as rodadas podem ser quantas o professor desejar. A experiência nos mostra que cinco rodadas com um espaço semanal entre elas, é um numero bom que já permite ao aluno se ambientar e sentir as diferentes transformações do mercado.
Em cada rodada os grupos têm que:
Analisar Oportunidades de Mercado.
Escolher estratégia de competição.
Avaliar opções táticas.
Registrar série de decisões visando lucro e participação de mercado.
Estudar dados financeiros, operacionais e de mercado.
As decisões são comparadas com as dos concorrentes e os resultados são mostrados rapidamente. Vencer requer que sua equipe saiba e atue mais rápido que a concorrência para tanto são enfrentados desafios no tocante ao planejamento do fluxo de caixa, criação de design do produto, programação da produção, administração da cadeia de valor, análise da lucratividade, planejamento e administração estratégica, dentre outras.
O cenário consiste em estabelecer as informações de um ramo X e das opções estratégicas de cada grupo. Para ilustrar vamos apresentar o modulo da indústria de computadores.
No segundo semestre os resultados também forma excelentes, vinte e duas empresas foram criadas com um capital de cinco milhões de “dinheiros” e os resultados foram:3 empresas se tornaram grandes empresas globais com crescimento de até 500%; 4 empresas se tornaram grandes empresas com crescimento de 300%; 5 empresas se tornaram médias empresas nacionais com crescimento entre 30 e 100% 6 empresas se tornaram pequenas empresas , quase sem lucratividade – não atingiram o ponto de equilíbrio; 4 empresas forma a falência.
A seguir depoimentos de alguns alunos ao responderem sobre a importância da simulação e como contribui para seu aprendizado até aqui.
“Vem sendo importante , pois tenho utilizado muito o que aprendo em aula no dia a dia, em minha empresa…”
“…foi ótimo pois estou aprendendo na prática as variáveis que um gestor tem para a tomada de decisão. E estou utilizando muito minha visão sistêmica e de estrategista…”
“As cobranças para tomada de decisão e trabalho sobre pressão estão sendo excelentes para o desenvolvimento pessoal, porque aqui nós podemos errar, e mais importante, falar e fazer sem medo…”
“…as simulações tem me feito ver como é difícil lidar com pontos de vista diferentes, mas que devo aprender a lidar com isso…”
“… comecei o curso com uma visão muito restrita do conteúdo, hoje possuo uma curiosidade enorme sobre tudo o que aprendi, é fascinante, porém sei que preciso aprender, me dedicar muito, treinar, interagir com os outros amigos, professores e profissionais… Falta muito, porém cada dia aprendo mais…”
“…hoje consigo ter uma visão maior do processo… o que posso fazer para melhorá-lo, qual a necessidade do meu cliente e como agregar valores ao meu produto…”
“….além de ser novo para mim, está me ajudando também a conhecer mais outras áreas, abrindo minha visão dentro da minha própria empresa…”acho que a forma dinâmica nos deixa mais próximo a realidade…”
“….é bom saber controlar a pressão psicológica….”
“…meu aprendizado agora, na prática tem sido muito mais proveitoso e interessante. Proporcionando uma noção mais ampla de organização….”
“…creio que meu aprendizado tem sido satisfatório, considerando que eu não entendia quase nada do mundo dos negócios….”
Os resultados apresentados demonstram que é possível estimular o comportamento empreendedor nos alunos, inovar na forma de ensino é possível desde que o professor saiba como lidar com a pressão, frustração e cobrança dos alunos. Mais de 90% dos alunos aprovaram a nova abordagem de ensino e conseguiram vivenciar o dia a dia de um dono do negócio.
Para capacitar as pessoas, conseguir despertar o comportamento empreendedor, a transformação é o melhor caminho, transformar os indivíduos para que eles transformem os modelos de criação de emprego e busquem o conhecimento necessário para realizar seus sonhos. Sabe-se que nem todos têm potencial empreendedor, mas com a simulação de negócios é possível dar ao aluno a opção de escolha e que esta escolha seja feita durante o curso de administração e dentro da sala de aula, onde o erro não é punido por chefes e não gera nenhum prejuízo financeiro real.
O erro em sala de aula é corrigido pelo professor juntamente com o aluno que aprende realmente a aplicar todos os conceitos aprendidos no curso de administração de empresas e o que é mais importante: aprende a conhecer a si mesmo, identificar seus medos e barreiras ao aprendizado, além de ter a oportunidade de escolher a carreira que mais se encaixa com seu sonho.
Experiências como estas serão continuadas e aperfeiçoadas e espera-se poder chamar a atenção para este que parece ser um bom caminho para a educação brasileira, a educação para o empreendedorismo, gerador de riquezas e empregos para o país. Estas ações não devem estar isoladas somente em salas de aula, mais complementadas com rodadas de negócio, competições intra universidades e outras ações que florescem no universo dos cursos de administração de empresas.
É fato que o empreendedorismo se tornou um assunto em evidência e disseminá-lo através da educação parece ser um bom caminho. As ações apresentadas neste capítulo visam chamar a atenção para este tema e atrair cada vez mais pessoas interessadas, sejam elas professores, pesquisadores, empresários (dos setores público e privado).
Se conseguirmos chamar a atenção para os assuntos abordados neste capítulo, podemos esperar que a educação para o empreendedorismo poderá sim ajudar na construção de novos caminhos para o desenvolvimento de nosso país.
Acredito que educar para o empreendedorismo é a melhor saída para ampliar o conhecimento das pessoas para a melhor gestão de organizações, visto que, quanto maior o conhecimento sistêmico do gestor, melhor e maior a sua chance de sucesso como empreendedor.
A educação empreendedora e sustentável pode ser um excelente caminho para garantir um novo sistema de desenvolvimento, um sistema onde o conhecimento é construído coletivamente.
Ao conseguir criar uma ambiente de aprendizado, através da simulação de negócios, onde o aluno é o empreendedor, consegui grandes resultados e a cada novo semestre a simulação é reformulada de acordo com as experiências do educador e educando.
O jogo fornece aos alunos dados de mercado e números de demanda e disponibilidade de preços – o que o consumidor está disposto a pagar. O segredo do Jogo é descobrir este mercado de alta demanda e alto valor agregado, e isto deve ser percebido logo na primeira rodada. Os alunos que conseguem visualizar esta oportunidade , conseguem excelentes resultados financeiros e aprendem a importância da inovação na gestão de um negócio.
Em 28 grupos de alunos , somente 3 conseguiram enxergar a oportunidade e os demais aprenderam, apesar de não acreditarem muito, a importância do empreendedor na gestão de um negócio.
O trabalho do educador não é fácil, e encontrar professores com perfil para liderar uma simulação sem o uso de programas de jogos é muito difícil.
Qual o segredo então da educação empreendedora?
Fácil, o professor tem que ser empreendedor, ou no mínimo ter vivenciado a gestão empreendedora em alguma fase de sua carreira profissional.
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